Quando A Ingenuidade Nos Salva Da Tecnologia


Quanto mais digital o mundo se torna - e a arte por consequência - mais eu valorizo as coisas artesanais, principalmente as mais primitivas e ingênuas.
Na pintura esse primitivo e ingênuo é chamado de Naïf, que muitas vezes remete à contemplação da natureza e do folclore, sempre com muitas cores e uma poesia que emociona.
Descobri por acaso na internet o trabalho do francês  Alain Despert, que vive e trabalha em Bora Bora, a emblemática ilha na Polinésia Francesa, cujas paisagens, fauna, flora e o estilo de vida dos nativos e até dos turistas inspiram suas obras.





A obra de Despert e me fez lembrar do meu primeiro contato com a Arte Naïf, em 1994, quando me mudei para Paraty (RJ) e conheci o pintor Julio Paraty, que também pinta a natureza e a vida daquela cidade encantadora e mágica. A religiosidade e o folclore paratiense têm grande destaque em sua obra.





Julio é uma lenda viva de Paraty e começou a pintar nesse estilo influenciado pelas obras de Djanira, que ele chegou a conhecer quando ela morou na praia do Corumbé e imortalizou em suas telas as paisagens e as festas religiosas da cidade.
Djanira da Motta e Silva (1914-1979) foi uma pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora ligada ao Movimento Modernista e se tornou a primeira artista latino-americana a ter uma obra no acervo do Museu do Vaticano, a tela "Santana De Pé".




Mais tarde conheci o trabalho de Douglas de Souza, um amigo da adolescência e que ao tornar-se artista plástico seguiu instintivamente esse caminho. Autodidata, Douglas pintava a partir de riscos aleatórios de onde fazia emergir pássaros, flores, peixes e figuras humanas.
Misturando o Naïf à Pop Arte, Douglas produzia nos anos 90 telas  vigorosas e com um forte discurso ambientalista.





O termo naïf foi usado pela primeira vez em 1886 para identificar a obra de Henri Rousseau (1844-1910), um pintor autodidata admirado pela vanguarda artística dessa época, entre os quais estavam Picasso, Matisse e Paul Gauguin, entre outros. A pintura naïf de Rousseau já apontava para a liberdade estética e de expressão, totalmente desvinculadas das convenções acadêmicas, que seriam pilares do Movimento Impressionista.


E em tempos onde o tecnológico se torna o novo acadêmico, é um grande alívio para os olhos e para a alma reencontrar essa ingenuidade primitiva. Para mim a sensação é de por os pés na areia e olhar o azul salpicado de ilhas do mar de Paraty.

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