aMANTE
O desejo de matar é inerente ao ser humano. Todo mundo, em algum momento, já sentiu com maior ou menor intensidade o desejo de matar. A parte todas as convenções sociais, religiosas e etc., toda ação extremada é consequência de uma complexa trama de sentimentos e, muitas vezes, ao nos aprofundarmos nas razões que levam uma pessoa a cometer algum crime, acabamos tendo mais compaixão pelo criminoso do que pela vítima.
Roberto Alvim inspirou-se em A Amante Inglesa, obra de Marguerite Duras, para (re)escrever e encenar Amante, mergulhando (mais uma vez) nas profundezas obscuras da alma humana e lançando focos de luz sobre o invisível, o indizível.
No conto de Duras, o assassinato cometido por uma insonsa dona de casa do sul da França nos anos 60 é o tema central. No texto de Alvim o crime é apenas a primeira peça de um quebra-cabeça que, montado, revela o(s) momento(s) que antecede(m) o fato, desenhando o universo pscicológico dos envolvidos.
Em A Amante Inglesa o interrogatório de Claire, a assassina, e o de seu marido Pierre tem como objetivo elucidar o crime. Na obra de Alvim, os depoimentos se transformam em dois monólogos que se cruzam o tempo todo, em uma poética dança de emoções através do passado e do presente, buscando não o julgamento e sim a compreensão dos fatos antes do
fato em si.
Reconhecido como um dos mais importantes nomes do teatro pós-moderno, Roberto Alvim faz uso de uma estética instigante onde a ausência (de luz, de cenários, de movimentação, de voz...) é usada para evidenciar o conteúdo do texto, permitindo ao público criar seu próprio espetáculo. Em Amante os atores se movem minimamente dentro de pequenos quadrados de luz, ilhados no próprio eu, sem nunca se tocarem apesar de conviverem no mesmo espaço. As palavras são quase sussurradas, como se fossem um diálogo interno, com coisas que só podem ser ditas para si próprio, com confissões que jamais seriam feitas a uma outra pessoa.
Outra característica interessante no trabalho de Alvim é o distanciamento entre ator e personagem. Os atores cedem espaço integralmente ao personagem e sequer voltam ao palco no final para receber os aplausos. Essa é outra ausência, a de vaidade.
Amante tem no elenco Juliana Galdino, Caco Ciocler e Bruno Ribeiro. Em cartaz até 1º de julho no CCBB - São Paulo, de sexta a domingo, com sessão extra aos sábados.
Comentários
Postar um comentário