A Moda SEM CARAS E SEM BOCAS
Acredito que há um significado filosófico por trás, ou além, das máscaras que se tornam cada vez mais comuns nos desfiles e
editoriais de moda, desde o icônico desfile da Maison Martin Margiela em 2011,
com suas impactantes máscaras de cristais Swarovski.
Meu primeiro pensamento, quando vi o desfile de
Margiela pelo Youtube, foi que as máscaras pareciam bem coerentes visto que a
Maison sempre primou por um certo “anonimato”. Avessa à publicidade e
badalações típicas das outras grifes, pareceu natural que eles não quisessem
que a fama de alguns modelos na passarela desviassem a atenção da coleção.
Na verdade, não era a primeira vez que as máscaras em
desfiles chamavam minha atenção. Alguns meses antes, Alexandre Herchcovitch
cobriu o rosto de seus modelos com uma maquiagem que os transformava em
caveiras, símbolo da marca. Assisti o desfile ao vivo e senti um certo incomodo
mas ainda era possível estabelecer uma ligação da máscara com a grife.
Assim como nas máscaras de Margiela, a agressividade travestida beleza incomodava. Havia ali alguma mensagem
implícita, uma crítica ou um código, indo muito além do truque de stylist.
Engavetei minhas dúvidas por um tempo até me deparar
com o magnífico desfile de Thom Browne no Paris Men's Fashion Spring Summer
2015, onde era possível ver os rostos dos modelos mas completamente
artificializados sob uma brilhante e rígida máscara de plástico. Eles não eram
de verdade. As roupas de Browne também não são. Não as dos desfiles.
Então um amigo enviou para mim um editorial do fotógrafo
Roma Pashkovskiy em colaboração com a designer ucraniana Dina Lynnyk, eleita a
melhor em moda jovem pela Harpers Bazaar, onde os modelos aparecem como zumbis,
quase assustadores.
Por que os designers tentam esconder os rostos dos
modelos nas passarelas e nas campanhas? A resposta mais óbvia é que eles querem
chamar mais a atenção para a roupa mas eu,particularmente não acredito em
respostas fáceis.
O culto às celebridades e os vigentes padrões de beleza
física talvez estejam com seus dias contados. A moda talvez esteja tentando
falar mais diretamente ao seu público real e anônimo. Essa é uma possibilidade.
Ou talvez os próprios criadores, escravizados pela
Indústria, talvez estejam nos passando uma mensagem cifrada sobre a
desumanização da moda. Para os verdadeiros donos do negócio, nós somos apenas
uma massa sem rosto, sem identidade... Somos apenas consumidores de roupas,
buscando nelas uma ilusão de existência. Mas essa também é apenas outra
possibilidade.
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